Ânsia

Há pequenas coisas que atiçam o amor
Que nos dão um grande desejo de amar
Uma enorme ânsia de sofrer...


Amantes

Vem!
Vem comigo
Cansados de Amor
Mergulhemos juntos na noite
no silêncio dos Amantes
Amor Amor Amor
Repete comigo
as palavras que nos dão paz...


®Pôesia do Mundo

A minha foto
Le Vésinet, Yvelines, France
É impossível não se dizer ( no mínimo de letras ) e, ao mesmo tempo, em que não se pode tudo dizer ( no máximo de palavras ). Falar demais: È escancarar detalhes insignificantes da vida doméstica. A minha vida sustenta-se no diário de algumas palavras: Trabalho, Respeito, Ternura, Amizade, Saudades, Amor. PEQUENOS VALORES Viver é acreditar no nascer e no pôr-do-sol É ter esperança de que o amanhã será sempre o melhor É renascer a cada dia É aprender a crescer a cada momento É acreditar no amor É inventar a própria vida... No decorrer desta vida, o prazer, a alegria, a tristeza,a dor, o amor, desfilam em nossa alma e em nosso coração deixando diferentes marcas. São essas marcas combinadas que formam a riqueza da nossa caminhada. Um caminho onde o mais importante não é chegar e sim caminhar. Valorize todos os detalhes, todas as subidas e descidas, as pedras, as curvas, o silêncio, a brisa e as montanhas deste seu caminho, para que você possa dizer de cabeça erguida, no futuro: Cresci Chorei Sorri Caí Levantei Aprendi Amei Fui Amado Perdi Venci Vivi E, principalmente, sou uma pessoa feliz!




sábado, 30 de novembro de 2013

O Meu Impossível

O Meu Impossível
Minha alma ardente é uma fogueira acesa,
É um brasido enorme a crepitar!
Ânsia de procurar sem encontrar
A chama onde queimar uma incerteza!

Tudo é vago e incompleto!
E o que mais pesa
É nada ser perfeito.
É deslumbrar
A noite tormentosa até cegar,
E tudo ser em vão!
 Deus, que tristeza!...

Aos meus irmãos na dor já disse tudo
E não me compreenderam!..
Vão e mudo
Foi tudo o que entendi e o que pressinto...

Mas se eu pudesse a mágoa que em mim chora
Contar, não a chorava como agora,
Irmãos, não a sentia como a sinto!... 
Florbela Espanca


Noite de saudade




Noite de saudade
 
 
 
A Noite vem poisando devagar
Sobre a Terra, que inunda de amargura...
E nem sequer a benção do luar
A quis tornar divinamente pura...

Ninguém vem atrás dela a acompanhar
A sua dor que é cheia de tortura...
E eu oiço a Noite imensa soluçar!
E eu oiço soluçar a Noite escura!

Porque és assim tão escura, assim tão triste?!
é que, talvez, ó Noite, em ti existe
Uma saudade igual à que eu contenho!

Saudade que eu sei donde me vem...
Talvez de ti, ó Noite!... Ou de ninguém!...
Que eu nunca sei quem sou, nem o que tenho!
 
 
 
 



O teu olhar




O teu olhar


O teu olhar
Passam no teu olhar nobres cortejos,
Frotas,
pendões ao vento sobranceiros.

Lindos versos de antigos romanceiros,
Céus do Oriente,
em brasa,
como beijos

Mares onde não cabem teus desejos;
Passam no teu olhar mundos inteiros.

Todo um povo de heróis e marinheiros,
Lanças nuas em rútilos lampejos;


Passam lendas e sonhos e milagres!

Passa a Índia,
a visão do Infante em Sagres,
Em centelhas de crença e de certeza!

E ao sentir-se tão grande,
ao ver-te assim,

Amor,
julgo trazer dentro de mim
Um pedaço da terra portuguesa!






Florbela Espanca

domingo, 13 de outubro de 2013

Encontro













Encontro



Que vens contar-me 
se não sei ouvir senão o silêncio? 

Estou parado no mundo. 

Só sei escutar de longe 
antigamente ou lá para o futuro. 

É bem certo que existo: 
chegou-me a vez de escutar. 

Que queres que te diga 
se não sei nada e desaprendo? 

A minha paz é ignorar. 

Aprendo a não saber: 
que a ciência aprenda comigo 
já que não soube ensinar. 

O meu alimento é o silêncio do mundo 
que fica no alto das montanhas 
e não desce à cidade 
e sobe às nuvens que andam à procura de forma 
antes de desaparecer. 

Para que queres que te apareça 
se me agrada não ter horas a toda a hora? 

A preguiça do céu entrou comigo 
e prescindo da realidade como ela prescinde de mim. 

Para que me lastimas 
se este é o meu auge?! 

Eu tive a dita de me terem roubado tudo 
menos a minha torre de marfim. 

Jamais os invasores levaram consigo as nossas 
torres de marfim. 

Levaram-me o orgulho todo 
deixaram-me a memória envenenada 
e intacta a torre de marfim. 

Só não sei que faça da porta da torre 
que dá para donde vim. 



Almada Negreiros





CANÇÃO DA SAUDADE












CANÇÃO DA SAUDADE




Se eu fosse cego amava toda a gente.

Não é por ti que dormes em meus braços que sinto amor.

 Eu amo a minha irmã gemea que nasceu sem vida,
 e amo-a a fantazia-la viva na minha edade.

Tu, meu amor,
 que nome é o teu?

 Dize onde vives, dize onde móras, 
dize se vives ou se já nasceste.

Eu amo aquella mão branca dependurada da amurada
 da galé que partia em busca de outras
 galés perdidas em mares longissimos.

Eu amo um sorriso que julgo ter visto em luz 
do fim-do-dia por entre as gentes apressadas.

Eu amo aquellas mulheres formosas que indiferentes
 passaram a meu lado e nunca mais os meus olhos pararam nelas.

Eu amo os cemiterios - as lágens são espessas vidraças transparentes,
 e eu vejo deitadas em leitos florídos virgens núas,
 mulheres bellas rindo-se para mim.

Eu amo a noite, porque na luz fugida
 as silhuetas indecisas das mulheres
são como as silhuetas indecisas das
 mulheres que vivem em meus sonhos. 

Eu amo a lua do lado que eu nunca vi.

Se eu fosse cego amava toda a gente.





Almada Negreiros


quarta-feira, 2 de outubro de 2013

VIESTES COM TUA AUSÊNCIA











VIESTES COM TUA AUSÊNCIA



Viestes com mãos brejeiras
Enfeitar-me os cabelos

Com flores de laranjeiras
Deitar-me em teus castelos

Viestes com olhos pedintes
Ladrando-me os farelos

Com a luxúria dos requintes
Dos girassóis em anelos...


Viestes com risos pequenos
Ofertando-me sóis amarelos

Com a sede de vales morenos
Do deserto violoncelo

Viestes...com o corpo apenas
Sem alma... 

De carne fria
Levando-me como vil açucena
Para o jardim nostalgia!



Sheila Gomes De Assis



segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Rota de Colisão









Rota de Colisão



De quem é esta pele 
que cobre a minha mão 
como uma luva? 

Que vento é este 
que sopra sem soprar 
encrespando a sensível superfície?

Por fora a alheia casca 
dentro a polpa 
e a distância entre as duas 
que me atropela. 

Pensei entrar na velhice 
por inteiro 
como um barco 
ou um cavalo.

Mas me surpreendo 
jovem velha e madura 
ao mesmo tempo. 

E ainda aprendo a viver 
enquanto avanço 
na rota em cujo fim 
a vida 
colide com a morte. 



Marina Colasanti



Vincent





Vincent


Ciprestes de Van Gogh 
imóveis labaredas 

verdes incêndios sobre a tela 
verdes mulheres nuas 
em seus cabelos. 

Ciprestes de Van Gogh 
bizantinas colunas 

da paisagem vórtice 
remoinho erguido

como o grito o fallus 
o arremesso de gozo 
do pintor. 


Marina Colasanti



domingo, 29 de setembro de 2013

Vandalismo










Vandalismo



Meu coração tem catedrais imensas, 
Templos de priscas e longínquas datas,

Onde um nume de amor, em serenatas, 
Canta a aleluia virginal das crenças. 

Na ogiva fúlgida e nas colunatas 
Vertem lustrais irradiações intensas, 

Cintilações de lâmpadas suspensas, 
E as ametistas e os florões e as pratas. 

Como os velhos Templários medievais, 
Entrei um dia nessas catedrais 
E nesses templos claros e risonhos... 

E erguendo os gládios e brandindo as hastas, 
No desespero dos iconoclastas 
Quebrei a Imagem dos meus próprios sonhos! 




Augusto dos Anjos 




AMOR DE SEMPRE












AMOR DE SEMPRE
DE TANTO
TE QUERER...

DE UMA VEZ POR TODAS
ME RENDO AOS TEUS ENCANTOS
ME CONFESSO
INDEFESO DIANTE
DO PODER
DE TEUS OLHOS
DA FORÇA DE TUA VOZ,

DO PERFUME DE TEU CORPO
E DO SILENCIO
QUE TUA PRESENÇA EM MIM
INSTALA.

E QUIETO
EU QUE NEM ME ATREVO
TE QUERENDO
PERMANEÇO
ESPERANDO
TE ESPERANDO
TE AMANDO.



Marc Satini



sexta-feira, 27 de setembro de 2013

Amor como em casa

 





Amor como em casa
 
 

Regresso devagar ao teu sorriso como quem volta a casa.

 Faço de conta que 
não é nada comigo. Distraído percorro 
o caminho familiar da saudade, 
pequeninas coisas me prendem,
uma tarde num café, um livro.

 Devagar te amo e às vezes depressa,
meu amor, e às vezes faço coisas que não devo,
regresso devagar a tua casa, compro um livro, entro no 
amor como em casa.


Manuel António Pina

quinta-feira, 27 de setembro de 2012

FLERTE!

 
 
 
 



FLERTE!




Como rio que não se detém,
Frente á obstáculos...

Tua essência transbordou-me,
O pequeno frasco.

Lúbrico perfume que o ar embriagou.
Entre sorrisos, olhares copulavam.

Almas líricas deleitavam-se,
Num beijo que aquecia o corpo,
E o coração disparava desenfreado.

Paixão, Desejo sem palavras.

Ao redor, passos dormente.

Um mundo inerte...

Faces de estátua.




Márcia Costa



quarta-feira, 26 de setembro de 2012

Onde estiveres


Onde estiveres
 
 
Entre pensamentos, rostos e lugares,
encontrarás e escutarás vezes sem conta,
silhuetas, vozes, memórias de um tempo
que se cansou da espera nunca esperada...
 
Inventávamos um tempo sem tempo
entre dois espaços separados por alguma coisa
que se travestia de eternidade...
 
Vazios os teus olhos olham, distantes,
aqueles pequenos e imensos nadas,
que sabiam a tudo...
 
Lugares onde as mãos falavam, sussurravam,
por vezes choravam...
 
Longe, os horizontes parecem clamar
por um novo abraço...
 
Entre a neblina dos caminhos,
nascem formas perdidas,
ouvem-se canções, melodias,
lamentos, múrmurios...
 
Indiferentes, as noites dobram-se,
as árvores espreguiçam-se e entre uma lágrima
e um sorriso, a lua preenche a invisibilidade dos nossos lábios...
 
Na magia dos lugares sem nome,
pairam os nossos fantasmas,
entrelaçadas numa dança eterna...
 
Húmidos, os bosques, pululam de vida,
longínquos, os sons das fadas e dos gnomos,
misturam-se com vestígios da presença ausente
dos nossos corpos...
 
Na memória dos ventos, ondulam as últimas palavras,
espelhos do tempo, molduras com imagens serpenteando,
opacas, nubladas, encarceradas...
 
Algures, estamos nós...
 
 
 
Barão de Campos
  

segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Havia uma palavra


Havia uma palavra



Havia
uma palavra
no escuro.

Minúscula.

Ignorada.

Martelava no escuro.

Martelava
no chão da água.

Do fundo do tempo,
martelava, contra o muro.

Uma palavra.

No escuro.

Que me chamava, de Matéria Solar...



Eugénio de Andrade

Meus desejos




 





Meus desejos


Quando você surgiu na minha vida
Eu estava precisando ser amada

Fez-me acreditar na felicidade
 Foi ficando sem pressa

Com um jeitinho de quem sabe conquistar
 E assim você me cativou

E me ganhou pra você
Agora eu sei que você não chegou por acaso

Nossos caminhos foram traçados
E nos seus braços eu quero realizar os meus desejos


Heloisa Melo

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Última Canção


Última Canção



Se puderes ainda
ouve-me, rio de cristal, ave
matutina. ouve-me,
luminoso fio tecido pela neve,
esquivo e sempre adiado
aceno do paraíso.

Ouve-me, se puderes ainda.

Devastador desejo,
fulvo animal de alegria.

Se não és alucinação
ou miragem ou quimera, ouve-me
ainda:

 Vem agora
e não na hora da nossa morte
dá-me a beber a própria sede.


Eugénio de Andrade

Visión dun corpo na praia


Visión dun corpo na praia


Lábio de luz que treme na nudez
dun astro de brancura.

Movimento delgado
como perfil de auga.

Peixe de lentitude adiviñando o corpo
a sua sílaba húmida,
unha estrela que nace
flor de espuma.

Na ondulación da arxila
corpo solar
que arvorece no espello.
Liña de sede,
semente e sal,
a pel mariña,
e chama do tempo.

Este sopro ou queimazón violácea,
sulco fino da brisa,
a pulsación dos ollos
contra o sol da carne.

Está aqui escrito o exílio do desexo?

A adolescéncia é unha fenda rosada,
suave eclipse,
esbelta auséncia.

Mais agora regresa esa febre
que beixa a lua da boca,
ponto de fuga que arde
no interior dunha máxia
de saliva e de seda.

O salto docísimo dunha lágrima
que avivece insensíbel,
unha rosa de area
que brilla no recordo.

Aparición e signo, corpo
que o instante fai milagre,
espellismo do céu,
revelación dourada
que o mar
estremece no sangue.



Miguel Anxo Fernán-Vello

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

A minha Josefina


A minha Josefina


Tuas cartas são um vinho
que me transtorna e são
o único alimento
para meu coração.

Desde que estou ausente
não sei senão sonhar,
igual que o mar teu corpo,
amargo igual que o mar.
Tuas cartas apaziguo
metido em um canto
e por redil e pasto.

Dou-lhe meu coração.

Ainda que baixo a terra meu
amante corpo esteja escreve-me,
pomba que eu te escreverei.



Miguel Hernández

RENDETE A GLI OCHI MIEI


RENDETE A GLI OCHI MIEI



A meus olhos volvei,
ó fonte,
ó rio,
essas ondas não vossas,
forte veia,
que mais vos ergue e cresce,
grande cheia,
maior que é vosso natural desvio.

E tu,
ar denso,
de que me alumio
a luz não escondas,
se suspiro enfreia quem só de contemplá-la se recreia,
e só de suspirar te faz sombrio.

Devolva a terra os passos a meus pés,
e erva germine já por els pisada,

Eco,
tão surdo,
o que eu chorei me chore.

E a vista a mim,
o teu olhar cortês.

Que uma outra vez outra beleza adore,
já que de mim te não contentas nada


Miguel Ângelo

O Amor


O Amor


Ah, suave afán, cabal e inútil pena,
clima de uma pele morna como um trino,

Em secreto mistério a cadeia
forjando está com só ser divino!

Astral tonicidade de seus recreios,
preciosa solidão de seus combates,

Em lanterna de alarme seus desejos
queimando está de campos a Penates.

Eternidade de pétala de rosa,
silêncio azul de álamo que aroma,

Manjar de sombra com calor de esposa,
fruto proibido que no pólen erra,

Tecendo está com asas de pomba,
o vestido de noiva da Terra.



Miguel Angel Astúrias

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Elegia


Elegia



Só tu que não existes:

Me dás calma.

Porque não tens alma,
Porque não consistes.

Mesmo quando voltas
tu que não estiveste
não me trazes nada;

Nem mesmo o calor
da chama apagada.

Porque não te tenho
E vivo contigo,

Porque não te quero
Nem sou teu amigo
Deixa-me o teu corpo

Ânfora vazia,
Vinho de ciúme.

Deixa-me o que fui o meu eco em ti...


Fernando Tavares Rodrigues

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Com a polpa dos dedos


Com a polpa dos dedos


Com a polpa dos
dedos abro
o teu sorriso
gota
a
gota

Até desmoronar
as vigas
dos meus olhos...



Almeida Garrett

Gosto de ti calada


Gosto de ti calada



Gosto de ti calada porque estás como ausente,
e me ouves de longe,
e esta voz não te toca.

Parece que os teus olhos foram de ti voando
e parece que um beijo fechou a tua boca.

Como todas as coisas estão cheias da minha alma
tu emerge das coisas,
cheia da alma minha.

Borboleta de sonho,
pareces-te com a minha alma,
e pareces-te com a palavra melancolia.

Gosto de ti calada e estás como distante.
E estás como queixando-te,
borboleta em arrulho.

E ouves-me de longe,
e esta voz não te alcança:
vais deixar que eu me cale com o silêncio teu.

Vais deixar que eu te fale também com o teu silêncio
claro como uma lâmpada,
simples como um anel.

Tu és igual à noite,
calada e constelada.
O teu silêncio é de estrela,
tão longínquo e tão simples.

Gosto de ti calada porque estás como ausente.
Distante e dolorosa como se houvesses morrido.

Uma palavra então,
um teu sorriso bastam.
E eu estou alegre,
alegre porque não é verdade.



Pablo Neruda

domingo, 4 de dezembro de 2011

A DANÇA


A DANÇA




Não te amo como se fosses uma rosa ou um topázio
Ou a flecha de cravos,
Que o fogo lança.

Amo-te como certas coisas escuras devem ser amadas,
Em segredo,
Entre a sombra e a alma.

Amo-te como a planta que não floresce e carrega,
Escondida dentro de si,
A luz de todas as flores.

E, graças ao teu amor,
Escura no meu corpo
Vive a densa fragrância que cresce da terra.

Amo-te sem saber como ou quando ou de onde.

Amo-te tal como és,
Sem complexos nem orgulhos.

Amo-te assim porque não sei outro caminho além deste
Onde não existo eu nem tu.

Tão perto que a tua mão no meu peito é a minha mão.
Tão perto que,
Quando fechas os olhos,
Adormeço...



Pablo Neruda

sábado, 3 de dezembro de 2011

Horas de Saudade


Horas de Saudade



Tudo vem me lembrar que tu fugiste,
Tudo que me rodeia de ti fala.

Inda a almofada, em que pousaste a fronte
O teu perfume predileto exala

No piano saudoso, à tua espera,
Dormem sono de morte as harmonias.

E a valsa entreaberta mostra a frase
A doce frase qu'inda há pouco lias.

As horas passam longas, sonolentas...
Desce a tarde no carro vaporoso...

D'Ave-Maria o sino, que soluça,
É por ti que soluça mais queixoso.

E não vens te sentar perto, bem perto
Nem derramas ao vento da tardinha,

A caçoula de notas rutilantes
Que tua alma entornava sobre a minha.

E, quando uma tristeza irresistível
Mais fundo cava-me um abismo n'alma,

Como a harpa de Davi teu riso santo
Meu acerbo sofrer já não acalma.

É que tudo me lembra que fugiste.
Tudo que me rodeia de ti fala...

Como o cristal da essência do oriente
Mesmo vazio a sândalo trescala.

No ramo curvo o ninho abandonado
Relembra o pipilar do passarinho.

Foi-se a festa de amores e de afagos...
Eras ave do céu... minh'alma o ninho!

Por onde trilhas um perfume expande-se
Há ritmo e cadência no teu passo!

És como a estrela, que transpondo as sombras,
Deixa um rastro de luz no azul do espaço...

E teu rastro de amor guarda minh'alma,
Estrela que fugiste aos meus anelos!

Que levaste-me a vida entrelaçada
Na sombra sideral de teus cabelos!...



Castro Alves

terça-feira, 29 de novembro de 2011

Em ti o meu olhar fez-se alvorada



Em ti o meu olhar fez-se alvorada


Em ti o meu olhar
fez-se alvorada,

E a minha voz
fez-se gorgeio de ninho,

E a minha rubra
boca apaixonada.

Teve a frescura do linho...


Florbela Espanca

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

Como eu te amo


Como eu te amo



Como eu te amo

Como se ama o silêncio, a luz, o aroma,
O orvalho numa flor, nos céus a estrela,
No largo mar a sombra de uma vela,
Que lá na extrema do horizonte assoma;

Como se ama o clarão da branca lua,
Da noite na mudez os sons da flauta,
As canções saudosíssimas do nauta,
Quando em mole vaivém a nau flutua,

Como se ama das aves o gemido,
Da noite as sombras e do dia as cores,
Um céu com luzes, um jardim com flores,
Um canto quase em lágrimas sumido;

Como se ama o crepúsculo da aurora,
A mansa viração que o bosque ondeia,
O sussurro da fonte que serpeia,
Uma imagem risonha e sedutora;

Como se ama o calor e a luz querida,
A harmonia, o frescor, os sons, os céus,
Silêncio, e cores, e perfume, e vida,
Os pais e a pátria e a virtude e a Deus:

Assim eu te amo, assim; mais do que podem
Dizer-to os lábios meus, mais do que vale
Cantar a voz do trovador cansada:

O que é belo, o que é justo, santo e grande
Amo em ti.

Por tudo quanto sofro,
Por quanto já sofri, por quanto ainda
Me resta de sofrer, por tudo eu te amo.

O que espero, cobiço, almejo, ou temo
De ti, só de ti pende: oh!

Nunca saibas
Com quanto amor eu te amo, e de que fonte
Tão terna, quanto amarga o vou nutrindo!

Esta oculta paixão, que mal suspeitas,
Que não vês, não supões, nem te eu revelo,
Só pode no silêncio achar consolo,
Na dor aumento, intérprete nas lágrimas.

De mim não saberás como te adoro;
Não te direi jamais,
Se te amo, e como, e a quanto extremo chega
Esta paixão voraz!

Se andas, sou o eco dos teus passos;
Da tua voz, se falas;
o murmúrio saudoso que responde
Ao suspiro que exalas.

No odor dos teus perfumes te procuro,
Tuas pegadas sigo;
Velo teus dias, te acompanho sempre,
E não me vês contigo!

Oculto e ignorado me desvelo
Por ti, que me não vês;
Aliso o teu caminho, esparjo flores,
Onde pisam teus pés.

Mesmo lendo estes versos, que m'inspiras,
"Não pensa em mim", dirás:

Imagina-o, se o podes, que os meus lábios
Não to dirão jamais!

Sim, eu te amo; porém nunca
Saberás do meu amor;

A minha canção singela
Traiçoeira não revela
O prêmio santo que anela
O sofrer do trovador!

Sim, eu te amo; porém nunca
Dos lábios meus saberás,
Que é fundo como a desgraça,
Que o pranto não adelgaça,
Leve, qual sombra que passa,
Ou como um sonho fugaz!

Aos meus lábios, aos meus olhos
Do silêncio imponho a lei;
Mas lá onde a dor se esquece,
Onde a luz nunca falece,
Onde o prazer sempre cresce,
Lá saberás se te amei!

E então dirás:
Objeto
Fui de santo e puro amor:

A sua canção singela;
Tudo agora me revela;
Já sei o prêmio que anela
O sofrer do trovador.

"Amou-me como se ama a luz querida,
Como se ama o silêncio, os sons, os céus,
Qual se amam cores e perfume e vida,
Os pais e a pátria, e a virtude e a Deus!"



Gonçalves Dias

domingo, 27 de novembro de 2011

Da minha janela


Da minha janela



Mar alto!

Ondas quebradas e vencidas
Num soluçar aflito e murmurado.

Ovo de gaivotas,
leve,
imaculado,
Como neves nos píncaros nascidas!

Sol!

Ave a tombar,
asas já feridas,
Batendo ainda num arfar pausado.

Ó meu doce poente torturado
Rezo-te em mim,
chorando,
mãos erguidas!

Meu verso de Samain cheio de graça,
Inda não és clarão já és luar
Como branco lilás que se desfaça!

Amor!

Teu coração trago-o no peito...

Pulsa dentro de mim como este mar
Num beijo eterno,
assim,
nunca desfeito!...



Florbela Espanca

Mas que sei eu





Mas que sei eu





Mas que sei eu das folhas no outono

ao vento vorazmente arremessadas

quando eu passo pelas madrugadas

tal como passaria qualquer dono?



Eu sei que é vão o vento e lento o sono

e acabam coisas mal principiadas

no ínvio precipício das geadas

que pressinto no meu fundo abandono



Nenhum súbito súbdito lamenta

a dor de assim passar que me atormenta

e me ergue no ar como outra folha qualquer.



Mas eu que sei destas manhãs?



As coisas vêm vão e são tão vãs

como este olhar que ignoro que me olha









Ruy Belo

sábado, 26 de novembro de 2011

Que nenhuma estrela queime o teu perfil





Que nenhuma estrela queime o teu perfil



Que nenhuma estrela queime o teu perfil

Que nenhum deus se lembre do teu nome


Que nem o vento passe onde tu passas.


Para ti criarei um dia puro

Livre como o vento e repetido


Como o florir das ondas ordenadas.




Sophia de Mello Breyner Andresen


Rosa do Mundo


Rosa do Mundo


Rosa.

Rosa do mundo.

Queimada.

Suja de tanta palavra.

Primeiro orvalho sobre o rosto
que foi pétala
a pétala lenço de soluços.


Obscena rosa.

Repartida Amada.

Boca ferida,
sopro de ninguém.

Quase nada.



Eugénio de Andrade

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Ó Deusa


Ó Deusa


Ó doce beijo...

Espero tanto você nas fases das nossas queridas Luas.

Minha fase da escuridão está bem ali a dias.

As Luas podem cair sobre a Terra.

Ande,
Ande e ande.

Ó Deusa.

As Luas estão lindas.

Combina com o Céu.

Hoje elas estão violetas.

E amanhã?

Vamos juntos elaborar uma canção!

Vamos Dançar,
Dançar isso!

Esqueço que não terá mais o meus bens...



Eruraino

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

O Riso de Vera


O Riso de Vera


Raso mar
frente ao céu,
menor
do que
em cada coisa o seu
voto de ausência.

E além
do arco do espaço,
tudo se concentra
na sombra
em que me finda
o dia.

Enquanto em ti
se abrem
as flores enserenadas
e a luz
ressaca
nos postigos.



Alberto da Costa e Silva

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Cala-te


Cala-te



Cala-te, voz que duvida
e me adormece
a dizer-me que a vida
nunca vale o sonho que se esquece.

Cala-te, voz que assevera
e insinua
que a primavera
a pintar-se de lua
nos telhados,
só é bela
quando se inventa
de olhos fechados
nas noites de chuva e de tormenta.

Cala-te, sedução
desta voz que me diz
que as flores são imaginação
sem raiz.

Cala-te, voz maldita
que me grita
que o sol, a luz e o vento
são apenas o meu pensamento
enlouquecido….

(E sem a minha sombra
o chão tem lá sentido!)

Mas canta tu, voz desesperada
que me excede.

E ilumina o Nada
Com a minha sede.




José Gomes Ferreira

terça-feira, 22 de novembro de 2011

DESDE EL UMBRAL DEL SUEÑO


DESDE EL UMBRAL DEL SUEÑO


Lá dos umbrais de um sonho me chamaram...

Era aquela voz boa, voz querida.

Diz-me: virás comigo visitar a alma?...

No coração me entrava uma carícia.

Contigo, sempre...

E avancei no sonho
por uma longa e recta galeria,
sentindo o só roçar da veste pura
e o suave palpitar da mão amiga.




Antonio Machado

Rifa


Rifa



Rifa-se um coração
Cansado de ser só
Cansado de não saber
O que é um verdadeiro querer

Rifa-se um coração
Meio imaturo e idiota
Meio arrítmico e bombado
Precisado de transplante

Rifa-se um coração
Que mergulhado na ilusão
Perdeu o compasso da batida
E pulsa na solidão

Rifa-se um coração
Sem um bilhete vendido
Ninguém quer gastar um tostão
Com um caso perdido

Rifa-se um coração
Sem ter um vencedor
Os bilhetes empacaram
As vendas fracassaram

O coração não foi rifado
Não tem amor, não tem lugar
É coração abandonado
Deixa ele como está...


Nane Vieira

Companhia


Companhia



Felicidade
Eu tenho pressa de você
Vem ficar comigo hoje
O amanhã pode não amanhecer...

Vem me fazer companhia
Ainda que só por um instante
Me deixe te conhecer
Antes que eu parta

Vem viver ao lado meu
Vem me fazer sorrir
Deixa que eu te abrace
Antes de partir

Vem...

Que meu tempo é cronometrado
Te quero hoje e agora
Antes que eu vá embora

Felicidade
Te vi e te senti
Ainda quando menina
Vem matar minhas saudades

Vem na minha maturidade
Me dar um pouco de alegria
Para que eu parta sem agonia
E vire para sempre...uma poesia

Vem felicidade
Me fazer companhia...



Nane Vieira

O Inominável


O Inominável


Nunca
dos nossos lábios aproximaste
o ouvido;

Nunca ao nosso ouvido
encostaste os lábios;
és o silencio,

O duro espesso impenetrável
silêncio sem figura.

Escutamos,
bebemos o silencio.

Nas próprias mãos

E nada nos une
nem sequer sabemos se tens nome.




Eugénio de Andrade

segunda-feira, 21 de novembro de 2011

Adagio Apassionato


Adagio Apassionato



Nos confins do Universo,
Entre vales e montanhas
Lá se encontra o paraíso,
Luzes, perigos, doces manhas!

Onde o arco-íris renasce
Lugar em que as raras flores afloram
De onde cristalina maresia parte
E onde os lascivos cupidos namoram!

Lá ti encontro eu, bela princesa,
E ti sorvo a cada ínfimo instante
Em degustar-te, sinto tua tez acesa
E teu gostoso riso, tal qual em Dante!

Em teu corpo meigo me perco e percebo:
Nua, fascinas os que ti chegam do nada
Nua, entre pêlos, a fissura da rosa perfumada
És o bálsamo puro, que vem e peca!

Cogitar esquecer tua sensual nudez
É perder a sensibilidade ao calor solar,
É fenecer e, loucura, nem isso perceber,
É perder os sentidos e soçobrar ao luar!

Nunca perder-te então, é desafio(de tantos!
Nascer e padecer, se preciso, pelo raro perdão
Se de mi ti zangares, não duvides, maior castigo
Parte-me o peito e junto deste o pobre coração!

Mas, sorte minha, muito bem sabes meu afeto
Muito bem sabes, não negues, minha gratidão
De ti ter junto a mi e ao meu âmago aflito
De continuares a ser para mi, eterna canção!



Creed

A Corila


A Corila



Vês, Corila, aquela rosa
Emulando a cor da aurora

Quando, Febo a porta abrindo,
Leda sai do Ganges fora?...

Que maior valor tivera,
Quão mais grata fora à gente,

Se natura não a armasse
De um espinho tão pungente...

Sua púrpura esmaltando
De seu folhame o verdor,

E nos ares difundindo
Seu aroma encantador,

Convidaram-te a colhê-la,
Mas teu dedo alabastrino

Rasgado com dor penosa
Verteu veio purpurino:

Eis, Corila, o teu retrato,
Pois se és rosa na beleza,

Tens também de rosa espinhos
Nos desdéns e na fereza.

Ah!

Muda esse gênio esquivo,
Que requinta a formosura

Exalar de quando em quando
Um suspiro de ternura.

À formosa, em cujos olhos
Não arde o fogo do amor,

Eu prefiro a muda estátua,
Que formou destro escultor.



Costa e Silva

Visão


Visão



Vi-te passar,
longe de mim,
distante,
Como uma estátua de ébano ambulante;

Ias de luto,
doce toutinegra,
E o teu aspecto pesaroso e triste
Prendeu minha alma,
sedutora negra;

Depois,
cativa de invisível laço,

(O teu encanto, a que ninguém resiste)

Foi-te seguindo o pequenino passo
Até que o vulto gracioso e lindo
Desapareceu longe de mim distante,

Como uma estatura de ébano no ambulante.



Costa Alegre

Felizes, sim!


Felizes, sim!


Palavras inesquecíveis,
As mais belas e relevantes,
A mais importante.

A palavra da minha vida,
De sua voz...

Minha obsessão acompanhada,
Sentimentos sinceros, puros.

Alegria que caminha,
ao lado.

Sem nada planejado.


Em nada cobrada...

Felicidade surpresa,
Agora, presente.

Futuro?
Quem sabe?
Como será?
Sei lá!
Será bom assim?

Quero você feliz,
Estando,
faz também a mim!



Gizelle Amorim

domingo, 20 de novembro de 2011

Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos


Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos



Deixarei os jardins a brilhar com seus olhos detidos:
hei-de partir quando as flores chegarem à sua imagem.

Este verão concentrado
em cada espelho.

O próprio movimento o entenebrece.

Mas chamejam os lábios dos animais.

Deixarei as constelações panorâmicas destes dias internos.


Vou morrer assim, arfando entre o mar fotográfico e côncavo
e as paredes com as pérolas afundadas.

E a lua desencadeia nas grutas o sangue que se agrava.


Está cheio de candeias, o verão de onde se parte,
ígneo nessa criança contemplada.

Eu abandono estes jardins ferozes,
o génio que soprou nos estúdios cavados.

É a cólera que me leva aos precipícios de agosto,
e a mansidão traz-me às janelas.
São únicas as colinas como o ar palpitante fechado num espelho.

É a estação dos planetas.

Cada dia é um abismo atómico.


E o leite faz-se tenro durante os eclipses.

Bate em mim cada pancada do pedreiro que talha no calcário a rosa congenital.

A carne, asfixiam-na os astros profundos nos casulos.

O verão é de azulejo.

É em nós que se encurva o nervo do arco contra a flecha.

Deus ataca-me na candura.

Fica, fria, esta rede de jardins diante dos incêndios.

E uma criança dá a volta à noite,
acesa completamente pelas mãos.


Herberto Helder

Im Afraid of


Im Afraid of


Tenho medo de perder-te e de,
perdendo-te,
não mais te ver cavalgar sobre a relva úmida
em galope elástico e branco,
num ondular de ancas
brancas
de lua com maciez de jacintas.

Tenho medo de perder-te
e de, perdendo-te,
perder-me também
(irremediavelmente)
numa infecunda solidão floral:

Sem o mel da polpa que o fruto oculta,
sem o pólen da rosa escarlate.



Herberto Sales

Bruma Rubra


Bruma Rubra


Na bruma rubra
busco teu corpo,
na fome da indermida nudez de tuas formas,
que em seus túmidos relevos
são meu repasto e minha bilha.

Na bruma rubra,
buscando teu corpo
em ti me encontro.

E contigo parto em noturna cavalgada,
num dorcel de linho e plumas.

Na bruma rubra
busco teu corpo,
na fome de tua alma.


Herberto Sales

Saudade Ancestral


Saudade Ancestral



A saudade ancestral me trouxe ao mar,
e o líquido elemento me acolheu;
a imensidão azul foi o meu lar,
e fui peixe, e fui concha, e não fui eu.

Das ondas meu cabelo foi espuma
e brinquei nua e pura à luz da lua.

Com o verme e com o lodo me fiz uma,
e renasci, eterna, à voz que é tua.

Vivo, o incêndio do sol a água queimou,
e toda a minha vida vi arder
nesse mar onde a luz me penetrou.

E o sangue que foi água se refez;
e a carne que foi lodo quis viver;
e, à luz do sol o mar o ser me fez



Epiphânia Nogueira

Certezas


Certezas


Não sei os mistérios, as mãos, as vidraças;
não sei a hora nem o dia do amor
que em vida é pressa, é vago, é frágil.

Não sei as heranças o que existe
depois da última hora
do último beijo e da última espera
atrás da porta.

Não sei os meus passos e nem as esquinas.

Não sei se o que encaro é pura rotina
ou etapa que se vence, por mero acaso.

Não sei as vidas que me cercam
e que aguardam atentas, meu gesto
minhas palavras estéreis e amenas
como algumas mulheres
que cortam a paisagem sem deixar marca.

Não sei o certo e o errado
o que fazer diante do impasse
na dúvida, não sei o resto
na certeza, não sei a meta.

Só sei mesmo que todo tempo é curto
e que meu chão é este:
feito de pedra e pluma
em barro e nuvem e irremediavelmente, meu.




Eolo Yberê Líbera

sábado, 19 de novembro de 2011

Algo existe


Algo existe


Algo existe num dia de verão,
No lento apagar de suas chamas,
Que me implele a ser solene.

Algo, num meio-dia de verão,
Uma fundura - um azul - uma fragrância,
Que o êxtase transcende.

Há, também, numa noite de verão,
Algo tão brilhante e arrebatador
Que só para ver aplaudo

E escondo minha face inquisidora
Receando que um encanto assim tão trêmulo
E sutil, de mim se escape.



Emily Dickinson

Falena


Falena

"Foi pra não morrer...


Que escrevi teu nome
no meu destino...

Arrastado por tua melancolia
segui teus passos...

Tendo somente tua sombra
como guia e companhia
Caminhei cego à beira do abismo...

E agora diante de ti
apenas meu fantasma.

Uma imagem distorcida
do que outrora fui...

Levando no semblante.

A fria lembrança do teu adeus"...




Gebher Malakl

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Tango Para Um






Tango Para Um





Disse-te que sabia…


O tango era uma dança a dois.


Acrescentei, porém, depois

que o meu coração arrebatado

podia até dançá-lo sozinho…


Enlaçando apenas o espectro velado de ti

com emoção

com fervor

com carinho…


Rodopiando como nenhum

pelo salão do amor

banhado em neon

ao som trágico do bandoneon

num apaixonado tango para um.




Francisco Quintas



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