Ode às noites íntimas
Ode às noites íntimas
As palavras nada proíbem.
Quem proíbe,
pouco entende o brilho húmido dos lábios
que se entreabrem,
e do pénis as grossas
túmidas veias e a ansiosa glande;
ou ainda,
se percebe,
os desentende:
Quantas meninas houver desflorado,
tanta a sanha de calar o que todos fazem
em cada volta que a Terra dá e nas que deu
e nos biliões que dará,
ocultando sob os telhados e sob as árvores o lutar
de corpos que leva voando no espaço.
De que ter pudor,
se dois humanos ensaiam
longamente na boca e pele que se morde
e nos pêlos afagados que se orvalham
a rigidez e a penetração do membro?
A vida também é as mãos apalparem
indagando os seios,
o clitóris rodarem como aos mamilos,
para que as femininas mãos,
apertem o membro e o masturbem.
Nada,
pois,
impede de cantar-se a luxúria,
os pêlos,
a tesa pele,
o confundir vultos,
o segredo de cada vez descoberto ou
inventado,
a língua,
as mãos,
os dedos exactos e o mais penetrando tudo que
o corpo abra,
e a garganta grite,
e os dentes exijam,
e as coxas apertem e logo se abram,
e pernas e calcanhares prendam,
e as unhas cravem,
e o ventre salte no movimento tão antigo das
marés vivas materna origem,
e a vulva acompanhe em calculadas contracções
o falo que mergulha e sai,
e assim tenha
o saber herdado dos moluscos do mar.
Pudor de escrever o penetrar de corpos
cada dia tão diverso quanto são os dias?
O membro usa o comprimento e a dureza
com a lucidez e o gozo de senti-lo
nos lábios que o recebem no desespero
de resistirem e a sede de o abraçarem e medirem,
suor de sal,
istantes ondas,
olhos brancos loucos de lua,
quando do telúrico vulcão ao longe os gemidos vêm subindo,
no ritmo dos quadris que aceleram e da respiração que arfa,
e as palavras ditas na noite,
segredadas,
de quem sábio alteroso se navega e indica o norte,
para que nada se perca,
já a lava começa a premente subida,
da medula do corpo à ponta do ventre,
e os gemidos crescem e se apressam,
misturados às palavras,
ainda guiando e logo perdidas,
obscenas em gritos e rugidos,
que limitam a noite à cama,
explodidas nos saltos do membro que o
esperma ejectam e a carne profunda,
apertando,
ávida,
sorve e chama na perdição que não é subir a astros,
mas esvair-se em vida pra semear o mundo.
Logo lentos os corpos esfriam e dormem.
Para depois haver a manhã e da vida
o labor salvar-se nas noites que virão.
Manuel Rodrigues
1 comentário:
E viva às noites intimas!
Bjs querido.
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