Branca de Neve
Branca de Neve
Eu te guardo no fundo da memória,
como guardo,
num livro,
aquela flor
que marca a tua delicada história,
Branca de Neve,
meu primeiro amor.
Amei-te...
E amei-te,
figurinha aluada,
porque nunca exististe e porque sei
que o sonho é tudo e tudo mais é nada...
E és o primeiro sonho que sonhei.
Hoje ainda beijo,
comovido e tonto,
a velha mão que um dia me mostrou
aquela estampa do teu lindo conto,
princesinha encantada de Perrault!
Que fui eu afinal?
Um pobre louco
que andou,
na vida,
procurando em vão
sua Branca de Neve que era um pouco
do sonho e um pouco de recordação...
Procurei-a.
Meus olhos esperaram
vê-la passar com flores e galões,
tal qual passaste quando te levaram,
no ataúde de vidro,
os sete anões.
E encontrei a Saudade:
ia alva e leve
na urna do passado que,
afinal,
é como o teu caixão,
Branca de Neve:
é um ataúde todo de cristal.
E parecia morta:
mas vivia.
Corado do meu beijo que a roçou,
despertei-a do sono em que dormia,
como o Príncipe Azul te despertou.
Sinto-me agora mais criança ainda
do que naqueles tempos em que li
a tua história mentirosa e linda;
pois quase chego a acreditar em ti.
É que o meu caso (estranha extravagância!)
é a tua história sem tirar nem pôr...
E esta velhice é uma segunda infância,
Branca de Neve,
meu primeiro amor.
Guilherme de Almeida
Branca de Neve
Eu te guardo no fundo da memória,
como guardo,
num livro,
aquela flor
que marca a tua delicada história,
Branca de Neve,
meu primeiro amor.
Amei-te...
E amei-te,
figurinha aluada,
porque nunca exististe e porque sei
que o sonho é tudo e tudo mais é nada...
E és o primeiro sonho que sonhei.
Hoje ainda beijo,
comovido e tonto,
a velha mão que um dia me mostrou
aquela estampa do teu lindo conto,
princesinha encantada de Perrault!
Que fui eu afinal?
Um pobre louco
que andou,
na vida,
procurando em vão
sua Branca de Neve que era um pouco
do sonho e um pouco de recordação...
Procurei-a.
Meus olhos esperaram
vê-la passar com flores e galões,
tal qual passaste quando te levaram,
no ataúde de vidro,
os sete anões.
E encontrei a Saudade:
ia alva e leve
na urna do passado que,
afinal,
é como o teu caixão,
Branca de Neve:
é um ataúde todo de cristal.
E parecia morta:
mas vivia.
Corado do meu beijo que a roçou,
despertei-a do sono em que dormia,
como o Príncipe Azul te despertou.
Sinto-me agora mais criança ainda
do que naqueles tempos em que li
a tua história mentirosa e linda;
pois quase chego a acreditar em ti.
É que o meu caso (estranha extravagância!)
é a tua história sem tirar nem pôr...
E esta velhice é uma segunda infância,
Branca de Neve,
meu primeiro amor.
Guilherme de Almeida
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